"Em círculo, somos todos iguais. Quando estamos em círculo, ninguém está à sua frente, nem atrás, nem acima e nem abaixo.
Um Círculo Sagrado é feito para criar Unidade. O Elo da Vida também é um círculo. Nesse elo há espaço para cada espécie, cada raça, cada árvore e cada planta."
Dave Chief, Oglala Lakota

quinta-feira, 8 de maio de 2014

MÃES, CRISE E GLOBALIZAÇÃO



Antigamente, o Dia da Mãe celebrava-se, em Portugal, no dia 8 de dezembro, mas, há alguns anos atrás, por imposição da Igreja, esta data festiva foi alterada para o primeiro domingo de maio, o qual comemorámos este ano no, ainda bem recente, dia 4 de maio. 
O Dia da Mãe talvez seja, de todo este género de dias festivos, aquele que movimenta maior número de pessoas e  gera menor controvérsia.
Afinal, todos temos, ou tivemos, uma Mãe e Ela é símbolo de vida, carinho, proteção, amor, dádiva e sacrifício. 
Durante séculos o papel de cuidadora e educadora coube, por excelência, à Mãe, sendo  considerada, pela grande maioria, o melhor refúgio, o porto seguro, aonde se pode sempre voltar. 
Hoje em dia, essas atribuições estão mais repartidas entre pais e mães, pelo menos  nas sociedades ocidentais, mas a Mãe é ainda, na maioria dos casos, a principal cuidadora, educadora e dispensadora de carinho e atenção.
O papel de Mãe é, muitas vezes, um papel ingrato, nas suas diversas facetas. Destas talvez a mais ingrata seja a de ajudar a fortalecer as asas dos filhos para que voem para fora do ninho, prepará-los  para o Mundo, com todas as suas injustiças, ambivalências,  problemas.

Paradoxalmente, o Mundo para o qual os empurramos é, também, o Mundo do qual os queremos proteger e defender.
Se há quatro ou cinco décadas atrás a maior preocupação das mães portuguesas era a Guerra Colonial e a iminência da ida dos seus filhos para o Ultramar,  hoje, com a globalização e a crise, esta passou a ser com a sua partida, sem previsão de regresso, para outros países ou continentes, em busca de um futuro melhor.
Pelo que, mais do nunca, o paradoxo se coloca, pois, agora, não só temos que dar-lhes os instrumentos para criarem a sua independência e voarem para fora do ninho, como, muitas vezes, nos vemos obrigadas a apoiá-los, quase coagi-los, para que vão para bem longe de nós e digam adeus ao país que os viu nascer.
Divididas entre as anunciadas saudades, os temores de que algo corra mal e a "obrigação" de contribuir para que tenham um futuro melhor, vivemos com o coração nas mãos, fazemos "investigações policiais" acerca dos seus países de destino, e procuramos reconfortar-nos  com a esperança de estarmos a fazer o que é mais acertado e melhor para os nossos filhos.
 
Artist - Ingrid Tusell
Porque a "profissão" mãe é um "trabalho que nunca termina, ou nunca deveria terminar, pois, de alguma forma, para nós os nossos filhos serão sempre aqueles pequenos seres indefesos que trouxemos ao mundo, alimentámos, educámos, acarinhámos, amparámos, (...) e porque nem a globalização, nem a crise, se compadecem com os nossos corações inquietos, talvez esta seja uma boa altura de criarmos uma organização de Mães.
Aqui lanço o repto a todas as mães, que se veem obrigadas a ver partir os seus filhos, para terras distantes, para que se unam, apoiando-se umas às outras, partilhando experiências e conhecimentos.
Se para umas é relativamente fácil visitar os filhos, periodicamente, nos países onde estes se encontram deslocados, para outras, pelas mais diversas razões, essas visitas serão raras, complicadas ou mesmo impossíveis, pelo que essa partilha, apoio e entreajuda poderá tornar-se algo extraordinariamente valioso.

Artista David Agenjo


UBUNTU - "Eu sou porque nós somos"

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